2 de abril de 2011

Vendedores de felicidade


A felicidade é o produto mais consumido no mundo moderno. Nunca se vendeu tanto livros de auto-ajuda, drogas contra a depressão, seminários e workshops que ensinam como ser feliz.

O lar é um dos mais importantes fatores nessa busca da felicidade. Os Arquitetos e Designers de Interiores, bem como, vendedores de produtos para decoração, devem entender o que representa de fato o lar nesse conceito de felicidade.

Antes de ser um espaço físico, o lar é o não espaço da casa. Ritualizado e mítico, o lar é a alma da casa e o paraíso da nossa individualidade privada. O lar caracteriza-se por ser um espaço imaginário, simbólico, um conjunto de práticas concretas e rituais imaginários que fazem da casa algo sem igual.

Alguns buscam em um projeto de Arquitetura ou de Interiores valores nem sempre presentes em si mesmos: força, tranqüilidade, juventude eterna, graça, leveza, harmonia familiar.

Tudo que envolve o processo de decisão para a compra do lar ou de produtos para acabamento e decoração, por exemplo, está associado a uma complexidade de fatores irracionais que interferem na seleção e definição da aquisição. Afinal, não estamos buscando um teto, ou apenas um estilo de arquitetura ou de decoração, mas um espaço onde o nosso ideal de felicidade deve ser materializado.

O projeto de arquitetura ou de interiores concebido do ponto de vista estético e funcional, a partir do levantamento das necessidades, hábitos e desejos do Cliente, nem sempre corresponde à expectativa dele, o que frustra o seu autor.

Bem, o buraco é mais embaixo, diria o sábio popular.

Na maior parte das vezes, a mulher toma a frente no que se refere à criação ou modificação do espaço lar. Nada de machismo ou feminismo nessa informação. A mulher (fêmea) em muitos grupos de animais é a grande responsável pela continuidade da espécie. E o ninho é fundamental nessa divina tarefa. Por isso, é a mulher quem primeiro visita o profissional e apresenta o seu sonho de felicidade (o que o projeto pode fazer por mim?).

Tenho dito que, muitas vezes, a mulher quando se decide pela troca do imóvel ou pela reforma / decoração do atual, busca saciar o desejo da construção de uma nova relação familiar. Sem poder trocar de família (sim, nos cansamos às vezes da nossa família!), essa mulher sonha mudar o comportamento de seus integrantes neste novo espaço.

Uma sinalização de que algo pode ser renovado, mudado para que todos possam ser mais felizes juntos. As mulheres têm essa característica de conspirar pela felicidade de todos, por isso, são tão conciliadoras, o que não quer dizer sinal de fraqueza, fique bem claro, e muito menos falta de determinação.

Com o projeto, essa mulher idealiza uma nova pactuação implícita de relações, sempre de olho na conquista da felicidade, essa verdadeira utopia que nos move neste planeta cada vez mais enlouquecido.

Portanto, aqueles que procuram trabalhar os fatores racionais de tomada de decisão acabam malogrando nessa tarefa de envolver o Cliente. É preciso compreender o seu universo de relações e preocupações e ajudar na decisão de compra.

A primeira grande habilidade do profissional é a de interagir com os outros para que possa captar o ideal de felicidade de cada Cliente. Muito embora existam aspirações coletivas (muitos querem ser felizes viajando pela Europa, por exemplo), individualmente esse conceito de felicidade tem nuances muito peculiares.

É essa capacidade de penetrar no íntimo de uma pessoa que dá ao profissional a possibilidade de envolver esse Cliente, estar ao seu lado sempre em todos os momentos de decidir, reforçando o seu ideal de felicidade.

Acontece que essa tarefa dá um trabalho danado. Exige tempo, paciência e dedicação. Nesse mundo em que a velocidade é que faz a diferença, é quase um contracenso. Por isso, alguns Clientes (poucos?) andam tão insatisfeitos com a relação com os profissionais. Reclamam da falta de personalização no atendimento, de um certo abandono na hora de decidir. Se sentem solitários, com medo de errar e não atingir aquele ideal de felicidade tão desejado.

Por: Ricardo J. Botelho, em http://www.adforum.com.br